quarta-feira, 29 de abril de 2009

PEDRA DO SAL


Havia o mar, os barcos, o farol, vez por outra o silêncio, tantas vezes o sol e o luar. A pequena casa de palha abrigava a eufórica alegria das crianças, guardando para si os gritos e gestos, segredos e medos. Das faces brotavam sorrisos morenos, expressões que ainda hoje me lembro. O vento constante nas palmeiras, o ócio contemplativo no embalo das redes de tucum, o fluxo e o refluxo das marés, as longas caminhadas pela praia marcavam o correr do tempo. Ao fim do dia, vislumbrava o enebriante pôr-do-sol sobre as pedras do farol. Como esquecer aqueles respingos nos meus pés descalços, a força das ondas precipitando-se nos rochedos, o salitre impregnado na pele bronzeada. Meu olhar distante no horizonte libertava o desejo de transpor o além mar. Enfim, a noite translúcida pelo clarão da lua se fazia bela e quieta, apenas o silvo do vento traspassava o silêncio, era como uma canção, um alento.


Houve um tempo em que eu era apenas um "rapaz latino americano, sem dinheiro no bolso, sem amigos importantes..." e esse tempo se perdeu no vento que de tempos em tempos volta a soprar em mim.


VICENTE CALDAS

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