segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011
Aniversário: por que não comemorar?
E se analisarmos bem, o dia do nosso nascimento foi cercado de alegria e de cuidados. Nossos pais preparam tudo, esperaram nove meses (os pais de prematuros esperaram menos). E quando nos pegaram no colo sentiram-se realizados, agraciados. Fomos recepcionados com festa, com muita felicidade. Trouxemos vida nova a um lar.
Comemorar o aniversário, pra mim, é reviver tudo isso, mesmo que você já não tenha seus pais, como é o meu caso, mas este momento é único, abençoado. Nada de ficar preocupado com essa questão de idade, melhor ficar velho do que partir antes da hora, como se diz por aí. Penso que há coisas mais relevantes a se lembrar neste dia.
O que eu quero é sorrir pra vida, me alegrar com a família, com os amigos, com Deus e curtir a paz. O resto é apenas resto e deve ser jogado fora, porque é assim que fazemos com os restos. E se ninguém vier me felicitar pelo meu dia, direi a mim mesmo: Meus parabéns! Você merece!
Aniversário é dia de festa, porque se comemora VIDA
terça-feira, 21 de dezembro de 2010
sábado, 7 de agosto de 2010
O PAI
Quando começo a escrever deixo de ser dono de mim mesmo. Fico à mercê de idéias que nunca pensei. Elas aparecem sem que eu as tenha chamado e me dizem: “Escreva!“ Não tenho outra alternativa. Obedeço. Cummings, referindo-se a um livro seu, ao invés de dizer “quando eu escrevi esse livro“, disse “quando esse livro se escreveu.“ Não foi ele... O livro já estava escrito antes, em algum lugar. Ele só fez obedecer as ordens que o livro lhe deu. Nikos Kazantzakis, autor de Zorba, o Grego, confessou que as letras do alfabeto o aterrorizavam. E isso porque, uma vez soltas, elas se recusavam a obedecer as suas ordens. “As letras são demônios astutos e desavergonhados — e perigosos! Você abre o tinteiro e as solta: elas correm — e você não mais conseguirá traze-las de novo para seu controle! Elas ficam vivas, juntam-se, separam-se, ignoram suas ordens, arranjam-se a seu bel-prazer no papel — pretas, com rabos e chifres. Você grita e implora: tudo em vão. Elas fazem o que querem...“
Era meu costume tentar colocar ordem na casa: planejar, determinar de forma lógica e metódica os temas sobre que eu iria escrever. Foi assim que resolvi escrever um livro em que colocaria em ordem e diria tudo o que eu havia pensado sobre a educação. O título seria: A erótica da educação e a educação da erótica. Por cinco anos lutei. As idéias não me faltavam. Mas as palavras se recusaram a me obedecer. A dito livro não queria ser escrito. Wittgenstein passou por experiência semelhante. Por muitos anos ajuntou idéias. Aí, tentou ordená-las sob a forma de um texto filosófico. Eis o que aconteceu, em suas próprias palavras: “Depois de várias tentativas mal sucedidas de fundir meus resultados numa peça única, percebi que eu nunca haveria de ser bem sucedido. O melhor que eu poderia escrever seria nada mais que anotações filosóficas; os meus pensamentos ficavam logo paralisados se eu tentava força-los numa única direção contra a sua inclinação natural.“
Pois eu não tinha intenção alguma de escrever sobre o dia dos pais. Mas, de repente, passando os olhos num livro que uma amiga me enviou, encontrei a seguinte afirmação: “Tomar uma decisão de ter um filho é algo que irá mudar sua vida inteira de forma inexorável. Dali para frente, para sempre, o seu coração caminhará por caminhos fora do seu corpo.“
Aí as idéias puseram a se movimentar por conta própria. Pensei na minha condição de pai. É verdade: pai é alguém que, por causa de um filho, tem sua vida inteira mudada de forma inexorável. Isso não é verdadeiro do pai biológico. É fácil demais ser pai biológico. Pai biológico não precisa ter alma. Um pai biológico se faz num momento. Mas há um pai que é um ser da eternidade: aquele cujo coração caminha por caminhos fora do seu corpo. Pulsa, secretamente, no corpo do seu filho (muito embora o filho não saiba disto).
Lembrei-me dos meus sentimentos antigos de pai, diante dos meus filhos adormecidos. Veio-me à mente a imagem de um “ninho“. Bachelard, o pensador mais sensível que conheço, amava os ninhos e escreveu sobre eles. Imaginou que, “para o pássaro, o ninho é indiscutivelmente uma cálida e doce morada. É uma casa de vida: continua a envolver o pássaro que sai do ovo. Para este, o ninho é uma penugem externa antes que a pele nua encontre sua penugem corporal.“ Era isso que eu queria ser. Eu queria ser ninho para os meus filhos pequenos. Queria que meu corpo fosse um ninho-penugem que os protegesse, um ninho que balança mansamente no galho de uma árvore ao ritmo de uma canção de ninar...
Que felicidade enche o coração de um pai quando o filho que ele tem no colo se abandona e adormece! Adormecida, a criança está dizendo: “tudo está bem; não é preciso ter medo“. Deitada adormecida nos braços-ninho do seu pai ela aprende que o universo é um ninho! Não importa que não seja! Não importa que os ninhos estejam todos destinados ao abandono e ao esquecimento! A alma não se alimenta de verdades. Ela se alimenta de fantasias. O ninho é uma fantasia eterna. Jung deveria tê-lo incluído entre os seus arquétipos! “O ninho leva-nos de volta à infância, a uma infância!“ (Bachelard). Aquela cena, a criança adormecida nos braços do pai, nos reconduz à cena de uma criancinha adormecida na estrebaria de Belém! Tudo é paz! Desejaríamos que ela, a cena, não terminasse nunca! Que fosse eterna!
É impossível calcular a importância desses momentos efêmeros na vida de uma criança. É impossível calcular a importância desses momentos efêmeros na vida de um pai. O efêmero e o eterno abraçados num único momento! “Conter o infinito na palma da sua mão e a eternidade em uma hora“: o pai que tem o seu filho adormecido nos seus braços é um poeta! Essas palavras do poeta William Blake bem que poderiam ser suas. Um homem que guarda memórias de ninho na sua alma tem de ser um homem bom. Uma criança que guarda memórias de um ninho em sua alma tem de ser calma!
Mas logo o pequeno pássaro começará a ensaiar seus vôos incertos. Agora não serão mais os braços do pai, arredondados num abraço, que irão definir o espaço do ninho. Os braços do pai terão de se abrir para que o ninho fique maior. E serão os olhos do pai, no espaço que seus braços já não podem conter, que irão marcar os limites do ninho. A criança se sente segura se, de longe, ela vê que os olhos do seu pai a protegem. Olhos também são colos. Olhos também são ninhos. “Não tenha medo. Estou aqui! Estou vendo você“: é isso o que eles dizem, os olhos do pai.
O que a criança deseja não é liberdade. O que ela deseja é excursionar, explorar o espaço desconhecido – desde que seja fácil voltar. Tela de Van Gogh. É um jardim. No lado direito do jardim, mãe e criança que acabam de chegar. Ao lado esquerdo o pai, jardineiro, agachado com os braços estendidos na direção do filho. É preciso que o pai esconda o seu tamanho, que ele esteja agachado para que seus olhos e os olhos do seu filho se contemplem no mesmo nível. A cena é como um acorde suspenso, que pede uma resolução. É certo que o filho largará a mão da mãe e virá correndo para o pai... E a fantasia pinta a cena final de felicidade que o pintor não pode pintar: o pai pegando o filho no colo, os dois rindo de felicidade...
O tempo passa. Os pássaros tímidos aprendem a voar sem medo. Já não necessitam do olhar tranquilizador do pai. É a adolescência. Ser pai de um adolescente nada tem a ver com ser pai de uma criança. Pobre do pai que continua a estender os braços para o filho adolescente, como na tela de Van Gogh! Seus braços ficarão vazios. Como se envergonharia um adolescente se seu pai fizesse isso, na presença dos seus companheiros! É o horror de que os pássaros companheiros de vôo o vejam como um pássaro que gosta de ninho! Adolescente não quer ninho. Adolescente quer asas. Os ninhos, agora, só servem como pontos de partida para vôos em todas as direções. Liberdade, voar, voar... A volta ao ninho é o momento que não se deseja. Porque a vida não está no ninho, está no vôo. Os ninhos se transformam em gaiolas. Se eles procuram os olhos dos pais não é para se certificar de que estão sendo vistos mas para se certificar de que não estão sendo vistos! Aos pais só resta contemplar, impotentes, o vôo dos filhos, sabendo que eles mesmos não podem ir. Nos espaços por onde seus filhos voam os ninhos são proibidos. Mas eles terão de voltar ao ninho, mesmo contra a vontade. E o pai se tranquiliza e pode finalmente dormir ao ouvir, de madrugada, o barulho da chave na porta: “Ele voltou...“
Mas chega o momento quando os filhos partem para não mais voltar.
Através da minha janela vejo um ninho que rolinhas construíram nas folhas de uma palmeira. A pombinha está chocando seus ovos. Vejo sua cabecinha aparecendo fora do ninho. Mas numa outra folha da mesma palmeira há um outro ninho, abandonado. Esse é o destino dos ninhos, de todos os ninhos: o abandono.
Gibran Khalil Gibran escreveu, no seu livro O Profeta, um texto dedicado aos filhos. Não sei de cor suas precisas palavras. Mas vou tentar reconstrui-las. É aos pais que ele se dirige. “Vossos filhos não são vossos filhos. Vossos filhos são flechas. Vós sois o arco que dispara a flecha. Disparadas as flechas elas voam para longe do arco. E o arco fica só.“
Esse é o destino dos pais: a solidão. Não é solidão de abandono. E nem a solidão de ficar sozinho. É a solidão de ninho que não é mais ninho. E está certo. Os ninhos deixam de ser ninhos porque outros ninhos vão ser construídos. Os filhos partem para construir seus próprios ninhos e é a esses ninhos que eles deverão retornar.
Assim é na natureza. Assim é com os bichos. Deveria ser conosco também. Mas não é. Quem é pai tem o coração fora de lugar, coração que caminha, para sempre, por caminhos fora do seu próprio corpo. Caminha, clandestino, no corpo do filho. Dito pela Adélia: “Pior inferno é ver um filho sofrer sem poder ficar no lugar dele.“ Dito pelo Vinícius, escrevendo ao filho: “Eu, muitas noites, me debrucei sobre o teu berço e verti sobre teu pequenino corpo adormecido as minhas mais indefesas lágrimas de amor, e pedi a todas as divindades que cravassem na minha carne as farpas feitas para a tua...“
Sei que é inevitável e bom que os filhos deixem de ser crianças e abandonem a proteção do ninho. Eu mesmo sempre os empurrei para fora.
Sei que é inevitável que eles voem em todas as direções como andorinhas adoidadas.
Sei que é inevitável que eles construam seus próprios ninhos e eu fique como o ninho abandonado no alto da palmeira...
Mas, o que eu queria, mesmo, era poder fazê-los de novo dormir no meu colo...
Ruben Alves ( escritor e psicanalista )
domingo, 30 de maio de 2010
ORFANDADE
sentada no banco, debaixo da árvore,
recebendo todo o céu nos grandes olhos admirados.
Alguém passou de manso, com grandes nuvens no
[vestido,
e parou diante dela, e ela, sem que ninguém falasse,
murmurou: " A MAMÃE MORREU."
Já ninguém passa mais, e ela não fala mais, também.
O olhar caiu dos seus olhos, e está no chão, com as
[outras pedras,
escutando na terra aquele dia que não dorme
com as três palavras que ficaram ali.
quarta-feira, 31 de março de 2010
Chove? Nenhuma chuva cai...
Então onde é que eu sinto um dia
Em que o ruído da chuva atrai
A minha inútil agonia?
Onde é que chove, que eu o ouço?
Onde é que é triste, ó claro céu?
eu quero sorrir-te, e não posso,
Ó céu azul, chamar-te de meu...
E o escuro ruído da chuva
É constante em meu pensamento.
Meu ser é a invisível curva
Traçada pelo som do vento...
E eis que ante o sol e o azul do dia,
Como se a hora me estorvasse,
Eu sofro... E a luz e a sua alegria
Cai aos meus pés como um disfarce.
Ah, na minha alma sempre chove.
Há sempre escuro dentro de mim.
Se escuto, alguém dentro de mim ouve
A chuva, como a voz de um fim...
Fernando Pessoa
quarta-feira, 17 de março de 2010
SAUDADES DE ELIS
Salve, salve, Elis Regina, patrimônio da música popular brasileira, cidadã da música internacional, essa mulher , essa estrela.
sexta-feira, 12 de março de 2010
Nascido na Polônia em 1810, o aniversário de Chopin ganhou um comemoração de 171 horas na cidade de Varsóvia. Isso porque há uma dubiedade sobre a data de nascimento do compositor: 22 de fevereiro, ou 1º de março.
Para que os 200 anos não passassem sem uma homenagem no dia exato, um festival para comemorar o aniversário começou no último dia 22 de fevereiro e irá até o início de março, em um edifício neoclássico na antiga cidade de Varsóvia. Durante todo esse tempo, pianistas de todas as idades irão interpretar algumas de suas obras.
Chopin começou a estudar piano aos seis anos de idade, em 1816. Dez anos depois, passou a ter aulas de teoria musical, baixo cifrado e composição musical no Conservatório de Varsóvia, onde se formou três anos depois, em 1829.
Em 1930, o pianista deixou a Polônia para realizar concertos na Europa Ocidental e nunca mais retornou. Quando estava em visita à Alemanha, Chopin soube da ocupação da Polônia pelo exército do Império Russo). Aos 21 anos, quando chegou à França, ele já havia produzido um portfólio de importantes composições, incluindo seus dois concertos para piano e alguns de seus estudos Op. 10.
Em Paris, foi bem recebido por Poloneses como o Príncipe Adam Jerzy Czartoryski e alguns artistas, que lhe apresentaram diversos pianistas das da época, incluindo Vincenzo Bellini, que foi enterrado ao lado dele no cemitério Père Lachaise. Antes de ser sepultado, o coração de Chopin foi retirado, pois ele tinha medo de ser enterrado vivo.
Em 1936 conheceu George Sand, mulher com quem viveu até quase a sua morte. Viveu na casa da mulher entre 1839 e 1843, na cidade Nohant. Nessa época o pianista também criou grandes obras, como Polonesa em lá bemol maior, Op. 53 "Heróica, uma de suas mais famosas peças. Na volta a Paris, em 1839, ele conheceu o pianista e compositor Ignaz Moscheles. A relação entre os dois acabou em 1847. Dois anos antes, Sand publicou a obra Lucrezia Floriani, cujos os principais personagens eram uma rica atriz e um príncipe de saúde frágil), que podem ser interpretados como sendo Sand e Chopin, já que ele estava com muitos problemas de saúde. Dois anos depois, Chopin morreu vítima de tuberculose, aos 39 anos. Entretanto, estudos feitos em 2008 na Faculdade de Medicina da Universidade de Poznan concluíram que, na verdade, sua morte fio devida a uma fibrose quística.
Composições mais famosas
Embora muita gente não saiba ou não perceba, algumas obras de Chopin são muito requisitadas até hoje, em filmes, comerciais e em situações especificas.
O movimento #3 da Sonata #2, é a popular Marcha Fúnebre, por exemplo. Já o Noturno em C menor, composto em 1830 (quando Chopin ainda era um estudante), é tema do filme O Pianista (2002), que também tem na trilha sonora as músicas Grande Polonaise Brillante, Op. 22 - Allegro Molto e Balada nº 1 em G Menor, Op. 23.
Outro tema de filme é o Piano Concerto nº1 em E-Menor, em A menina do fim da rua, de 1976. O longa-metragem foi dos primeiros trabalhos da atriz Jodie Foster.
Além delas, A Valsa em mi bemol, op.18, também conhecida como Grande Valsa Brilhante se popularizou sendo tema do desenho Tom & Jerry.